Street e Only Rock Bar - Anos 90

    Nesta "compostagem" de hoje vou falar um pouco sobre o Street ao estilo de "Punk y sus Derivados".
  Aqui em Curitiba a Rua 24 Horas foi inaugurada no início dos anos 90, durante a gestão do então prefeito Jaimeleca, em um momento de grande visibilidade, aquele glamour todo... impulsionada pelas ações de marketing da prefeitura. Aproveitando essa popularidade, alguns sujeitinhos brincalhões passaram a apelidar a famosa e impiedosa Rua Saldanha Marinho, histórico beco num trecho ao lado da Catedral, de "24 Horas dos pobres". Nós, por outro lado, costumávamos chamá-la de "Street". Ali, ao lado do Heris, bar que ficou famoso por ser o cenário do filme Estômago, havia também o bar de uma senhorinha onde comprávamos cerveja por um valor muito abaixo do comum e ficávamos na rua, nas mesas espalhadas ou simplesmente sentados na calçada. O local era excessivamente popular e "democrático", mas para os cidadãos normais era demasiadamente mal visto. Pois recebia gente de todos os tipos, inclusive um monte de punks desvalidos. Um dos episódios mais inesquecíveis que presenciei aconteceu nesse local: uma briga em que o lendário Marião, com uma mesa de ferro da Antarctica em cada mão, girava e atingia uns boys de vila que estavam anteriormente causando confusão. A cena era tão impressionante que parecia que ele estava manuseando duas raquetes de tênis, dominando a situação com sua força única. 
    No Street era onde os policiais traziam os novatos para aprenderem a dar geral em vagabundo, chegavam diária e pontualmente as Kombis com os recrutas, que muitas vezes pareciam ser mais jovens que alguns ali presentes... Durante as truculentas abordagens ouvíamos os veteranos dando as instruções para os inexperientes em como proceder corretamente ao cidadão, bater sem chamar a atenção, localizar algum produto ilegal... O que não faltava era cobaia! Haviam quase uma centena de desgraçados com as mãos nas paredes, sempre dispostos a serem insultados em prol do adestramento das novas equipes da segurança pública. Geralmente não dava em nada, o maior perigo era algum passador de droga pilantra dispensar o produto e ele cair perto de você. 
    Em uma dessas noites turbulentas, uma policial feminina se envolveu numa discussão com um punk, que levava um enorme prego cravado na orelha, divagando que aquilo era ilegal, que poderia ser usado como uma arma em uma briga... Ele calmamente argumentou que era apenas uma expressão visual agressiva, que se fosse realmente andar armado, mais eficaz se fosse com uma faca... Nesse momento, levantou um outro policial, completamente embriagado, saiu de dentro da Kombi gritando: "Cadê a faca?! Cadê a faca?!" A policial impaciente e decepcionada o empurrou, devolvendo-o pra dentro da viatura dizendo: "Volta lá dormir fulano..." Assim era o cenário típico e atrapalhado nos anos 90...
    O Only Rock era uma outra opção, localizado uma quadra afrente, na Saldanha Marinho nº136, abriu entre 1995 e foi até meados dos anos 2000. Era um dos bares onde a galera punk, metal e alternativa se encontrava, o tipo de lugar que, se você chegasse ali, sabia exatamente o que esperar: uma mistura de cheiro de álcool, fumaça de cigarro e coturno velho. Quem lembra da época anterior à lei anti-fumo sabe que, em bares e até mesmo em restaurantes, fumava-se sem restrições. Quem se incomodava com isso é que era considerado o mal-educado. No Only Rock não havia som ao vivo, não havia muito espaço, no geral ali também algumas pessoas ocupavam as poucas mesas e o restante ficava na calçada mesmo. Também não havia um atendimento espetacular... Mas era menos pior que o Street, a cerveja também era barata e a galera que frequentava era legitimamente underground. O ambiente precário, era justamente o que atraía quem procurava autenticidade e desprezava qualquer tipo de ostentação. Eu, as vezes, ganhava alguma cerveja de um amigo que trabalhava como garçom... Hoje em dia, o imóvel do lado continua sendo um boteco do mesmo nível, conforme pode ser visto nesta avaliação aleatória que retirei do Google. E apesar das críticas e da modernização, ou decomposição, da cidade ao redor, o local ainda parece manter aquela essência inconfundível de ser um antro onde os limites são testados e onde a diversão vai até o limite do caos.
 "Barulhento d+, incomoda a vizinhança, sem falar que é cheio de gente bêbada que perde a noção do ridículo e começa a falar e rir muito alto, e isso td seja de manhã, tarde ou madrugada a dentro.  Outro dia começou uma briga com porrada e garrafa voando." (SIC) 
    E por falar em briga... Uma das várias tretas que acabavam acontecendo foi em uma noite específica, onde: Eu, Girino e Fardado já estávamos indo embora, quando o Serginho H perguntou se poderia ir conosco. Ele não nos contou na hora, mas haviam dois caras no bar que estavam querendo bater nele.     Não percebemos nada inicialmente, mas, ao chegar na esquina, os sujeitos nos abordaram e uma pancadaria generalizada começou. Apesar de estarmos em maior número, nossos golpes não surtiam efeito, pois os caras eram muito fortes... Em um momento de distração, puxamos o Serginho do meio dos socos e saímos correndo. Os dois caras voltaram pro bar. Uma quadra depois já na Praça Tiradentes, a raiva aumentou, como se a adrenalina que corria nas nossas veias tivesse tomado conta de todos os nossos pensamentos, e foi aí que decidimos voltar para resolver a situação de vez. Arrancamos umas tábuas cheias de pregos de uns tapumes para nos armarmos e, nesse momento, um cidadão que estava no ponto de ônibus e observava nossa conversa tentou, por uns 10 minutos, nos acalmar. Tentou, com coerente paciência, nos fazer refletir sobre o que estávamos prestes a fazer, dizendo que não valia a pena.  Suas palavras foram tão convincentes que acabamos desistindo. Até hoje nem imagino onde esse cidadão anda, mas até então, continuo agradecendo a ele... Pois nesse momento vimos que a polícia virou com suas viaturas na Saldanha, como habitualmente fazia, para dar aquela sua geral rotineira... Se não fosse por aquele homem nos segurar ali por vários instantes, certamente teríamos sido presos em flagrante.


Only Rock Bar - Fardado, Vlad, Marião(RIP) e Anti Caos(RIP)
 


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