Zero Hora 1993/2001


Com imenso orgulho quero deixar registrado aqui n'Os Impregnantes um pouco sobre essa saudosa banda oriunda do movimento punk curitibano. Formada aqui na cidade no início dos anos 90, teve muita influência na cena nessa época. 

0HxZH

Lembro que, quando fiquei sabendo dessa banda, então recém-formada, entusiasmado perguntei à alguns dos integrantes o porquê deste nome diferente... Quase todo mundo sabe que "Zero Hora" é também como se chama um conhecido jornal brasileiro. Poderia ser uma crítica à mídia tradicionalista? E aos meios de comunicação, homogeneizados, que detinham grande poder de influencia na opinião pública?  
Mas, diferentemente da "gazeta sensacionalista gaúcha" homônima, o Zero Hora punk não queria manipular opiniões nem vender histórias supérfluas, a banda buscava principalmente expressar seu descontentamento. E o nome, então representaria um momento crucial de rompimento, uma hora decisiva e crítica... o ponto sem retorno de uma mudança radical. Tudo a ver com a revolução proposta pelo movimento punk... e que geralmente não está noticiado no jornal.
Uma brincadeira interna que tínhamos era chamar a banda de "O Hora" (como se fosse uma letra ô e não o numeral 0). Pois, em uma divulgação de um show onde eles tocariam no Parque Bacacheri, saiu uma matéria num jornal (local, não o ZH) grafado o nome do grupo dessa maneira assim resumida e sujeita à ambiguidade na interpretação.

Uma das poucas fotos nos turbulentos anos 90, Rodrigo Hemorroida, ao lado uma mina punk gaúcha de Erechim. O local é um estúdio na Rua Westphalem

Os Integrantes do 00:00

Ela começou quando alguns amigos com grande afinidade ideológica e musical estavam conversando durante um ensaio do Misfire e resolveram montar mais uma banda punk e se expressar no exitoso cenário que na época contava com incríveis bandas como: Extrema Agonia, o próprio Misfire, etc... Época que o punk; na sua versão JL; fervilhava pela Rua XV, Lino's Bar e arredores.
Os primeiros componentes foram: Luiz Backtéria, Daniele, Girino, Betinho e Hemorroida. Cada apelido, hein?
Backtéria foi o primeiro Straight Edge que vi aqui em Curitiba, era militante do "Gravida - Grupo Anarquista Via Direta de Ação", eu já o conhecia pois estudamos juntos no Colégio Rio Branco. Os irmãos Dani e Hemorroida moravam na região do Barreirinha, onde a banda se formou e ensaiava, ali havia uma pequena cena punk ativa e bacana. Girino (esse mesmo do LAI, Monurb 116, etc) e Betinho eram cria nossa aqui dos punks do Fazendinha. Eles eram um grupo multiforme que se complementava.
Lembro de um trecho curioso de um ensaio ali na Anita Garibaldi que enquanto o Baterista nº 1 Backteria tocava bateira, o nº 2 Girino improvisava e acompanhava tocando apenas o surdo... Isso se eu falar nem ele mais lembra!
Após alguns shows a banda mudou a formação e viraram um trio com Bactéria na bateria, Mauro Shit no Baixo e Hemorroida na Guitarra e vocal. Com essa formação foi gravado uma demo a qual não ouve divulgação. 
Depois de um intervalo de alguns anos, no início dos anos 2000, reformularam completamente a banda. Com Spirro na Bateria, André na Guitarra, Gil (Antigo MISFIRE) Guitarra e Hemorroida no baixo. Nessa formação fizeram uma gravação ao vivo e alguns shows.

A hora dos Gigs

Marcaram presença e fizeram alguns shows memoráveis aqui em Curitiba, como no "Fábrica de Vagabundos" (local de shows no centro da cidade com nome inusitado e agressivo, nesta casa também tiveram vários shows punks de bandas como: Cólera, DZK, GTW... no seu exagerado palco com dois metros de altura).


Foto retirada da net de um Show ALEATÓRIO na Fábrica de Vagabundos, 1994 Fonte: Arquivo Pessoal de Fabiano Camargo

Também tocaram em Londrina e Maringá, nesta época havia um intercâmbio cultural grande entre os punks dessas cidades da região do Norte Central Paranaense com os daqui da capital metropolitana... eram bandas, pessoas e informação indo e vindo, participando de muitos shows, eventos... 

Bandas Curitibanas Zero Hora e Extrema Agonia mais amigos - Maringá 1994

E tocaram também diversas ocasiões no Fazendinha, tanto com a primeira formação, no "Bar da Selma" e no "Bar dos Punks"; quanto com a última, no "Bar do João".
(Não sei se notaram... mas na vila, a lógica é simples: sem muita frescura ou criatividade para escolher nome bonitinho de bar. Geralmente locais sem alvará, sem placa, sem formalidades... Eram os clientes que acabavam automaticamente nomeando, tendo como referencial o nome de quem estava atrás do balcão).



Olha só que domingão animado no Fazendinha! Organizado por Atak Social Distro.

22 de abril de 2001 - Enquanto se comemorava o dia do descobrimento, digo... aniversário de 501 anos da chegada dos saqueadores portugas ao Brasil.
Tocaram Perjúrio (banda do Xaxim que contava com Bolha, o Elencar do estúdio Plug and Play, entre seus integrantes), Corcel Dois (Banda de amigos do Capão Raso), Zero Hora, Colligere (no início desta grande banda HC/SxE), Acidos Populares (do nosso sempre presente Max Vadala - Argentina) e Cadáver 43.
Nestes shows vinham punks e simpatizantes de todos os lados da cidade... Hoje, lembrando das festas loucas, só consigo pensar:
-Pouts, coitados dos vizinhos.


02 de setembro de 2001 - Organizado por Atak Social Distro. Lançamento do nosso Zine Sociedade Auto Destrutiva. E como se não fosse o suficiente, antes do show rolou um protesto anti-globalização na frente da rua da Cidadania do Fazendinha.
Tocaram: Zero Hora, Atirador de Facas, White Trash 13 e Resistencia.
Foi o primeiro show de um festival punk onde teve um gig em cada domingo deste mês cabuloso no Bar do João, onde tocaram dezenas de bandas de cenas variadas. 
Ah, e de quebra, no dia 11/09, a história mundial resolveu dar uma reviravolta marcante com o famoso ataque às Torres Gêmeas. Muitas coincidências com certeza. Tempos turbulentos.

Devia estar calor pois parece uma sauna! Mas é apenas o ensaio da formação nervosa dos anos 2000: Gil, André, Hemorroida e Spirro.
Curti foi o pedestal "Do-it-yourfeito" de cano de PVC!



24 de dezembro de 1994 - Show e manifesto contra a farsa natalina.
Enquanto o bom velhinho estava ocupado cuspindo nos pobres, a punkaiada tomou conta das ruas da cidade e depois foi em peso para o Fazendex escutar as "cantigas natalinas" de Extrema Agonia (com uma das suas melhores formações), Zero Hora, Desajustados, Cérebro Distorcido (predecessora do LAI), Lixo Atômico (do Boa Vista, vide coletânea "Maldita Repressão"), Criaturas de Morfeu (Boqueirão) e Sinfonia di Cachorro (SP - Banda da Márcia - Pós Guerra). Foi um dia histórico, com o caos e a barulho empacotados pra presente.

Zero Hora!

Banda que colocamos em nossas letras nossos princípios ANARQUISTAS. Tentando sempre demonstrar que todo o governo é PARASITA.
Não se preocuparam em agradar ninguém, assim como qualquer outra banda autenticamente punk... tiveram sua trajetória breve, mas marcaram presença no nosso cenário e portanto quero que esta sua história seja lembrada. Tiveram um papel fundamental num momento importante do punk daqui.

Estas gravações que deixo abaixo são raras, poderia até ousar dizer que são inéditas, pois não sei se chegaram a ser divulgadas.

Músicas:

-A procura
-Advogado
-Amizade
-Desculpe, mas eu duvido
-Liberdade
-No name
-Pergunta
-Poluição
-Sobrevivência no silêncio do sertão
-Sociedade em questão
-Vivendo em paz
-Faixa 2 (sem nome)

BAIXAR DEMO  

Agradecimento ao Rodrigo por ter preservado o registro desse material e compartilhado conosco.

Texto por: Armando Danger - impregnantes.com.br


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